Almanaqueiras: ou não queiras.

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segunda-feira, 23 de abril de 2018

Nunca ninguém fez merda em nome do capeta

Se você ouve o Bolsonaro falando, parece que quem governa o Brasil é o Zé Celso 

Gregorio Duvivier 



"Pelo menos Bolsonaro vai mudar alguma coisa. Você pode não gostar dele, mas tem que admitir que ele é diferente de tudo o que tá aí."

Sabe o que também é diferente? Tatuagem no testículo. Martelada no mindinho. As camisetas do Faustão. Diferente não é necessariamente bom. O fato de uma ideia ser inédita não significa que ela seja boa. Não conheço ninguém que tenha tido a ideia de fritar a própria bochecha e comer com brócolis. É bom? Não sei.

O mais estranho é que Bolsonaro não consegue nem a proeza de ser inédito. E olha que ser inédito é mole. A frase que acaba de me ocorrer: "o plâncton peida no pâncreas" é, segundo o Google, inédita. Talvez por não fazer sentido algum. Já a frase "bandido bom é bandido morto" não é inédita. O que não quer dizer que ela faça algum sentido.

Tudo o que o sujeito propõe é o que já tem sido praticado nos nossos 500 anos de história. "Você tá doente? Eu inventei um negócio: você corta seu antebraço e deixa sangrar." Então, isso se chama sangria e faz 4.000 anos que não dá certo. "Queria propor uma coisa nova, que é queimar tudo o que é bruxa."

Se tem uma coisa que o Brasil não precisa é de moral cristã e ordem militar. Tudo o que a gente teve até hoje é porrada e missa. E a gente é a prova viva do fracasso de ambos.

Se você ouve o Bolsonaro falando, parece que quem governou o Brasil nos últimos anos foi o Zé Celso e o pessoal do Teatro Oficina. Parece que a gente vive uma ditadura do teatro contemporâneo, da maconha e do poliamor. Parece que o pessoal tá tatuando a cara do Paulo Freire, e não do Neymar.

Ninguém no Brasil nunca fez merda em nome do Capeta, da maconha ou da sacanagem. Toda vez que mataram, escravizaram e torturaram no Brasil foi em nome de Deus, da pátria e da família.

"Tem que manter isso, viu?", disse o Temer pro Joesley sobre a propina pro Cunha. "Nossas putarias têm que continuar", disse o Sérgio Côrtes pro Miguel Iskin antes de ser preso. "Nosso sonho não vai terminar", diz Buchecha e Claudinho pra uma menor de idade. A história do Brasil é uma luta incansável (e vitoriosa) pela manutenção das putarias.

Bolsonaro, pode ter certeza, vai fazer um governo bem parecido com o de Temer. Acho inclusive que deve ganhar. Tem tudo o que precisa pra ser presidente do Brasil: auxílio-moradia, funcionário fantasma e um bando de ideia velha na cabeça.

Gregorio Duvivier
É ator e escritor. Também é um dos criadores do portal de humor Porta dos Fundos.

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